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Guia de Eventos de Setúbal

pessoa

Joana Negrão

"A música tradicional portuguesa é o meu lugar"

setembro 2024

A Cantadeira é mulher, mãe, cantora, instrumentista e performer. A Cantadeira é Joana Negrão, setubalense de 41 anos apaixonada pela música tradicional portuguesa à qual se dedica há cerca de duas décadas.

A música faz parte da vida de Joana desde muito cedo, mas até completar 19 anos não tinha a certeza do caminho a seguir. “Tive algumas bandas de garagem, mas nunca afirmei propriamente um estilo. Quando descobri a música tradicional percebi que o meu lugar era por aí.”

Em 2003, quando conheceu o grupo Adufeiras de Monsanto, descobriu um novo mundo. “Foi um ponto de viragem na minha vida. Aquele tipo de canto despertou em mim uma cantadeira.”

A partir daí, Joana, que se encontrava a frequentar a licenciatura de História – vertente de Arqueologia, concluída em 2007, dedicou-se à investigação do cancioneiro português, a escrever e a compor músicas inspiradas nas recolhas. Apaixonou-se também pelos instrumentos de percussão tradicional e aprendeu a tocar adufe, gaita de foles e pandeireta galega.

Este trabalho começou a ter mais visibilidade no projeto Dazkarieh, ao qual se junta em 2006, e percorre o país e o mundo em concertos e atuações em festivais de world music. “A música estava a tornar-se cada vez mais presente na minha vida. Adorava o meu curso e estive muito dividida, mas a dada altura o coração pendeu mais para um lado. Decidi que só iria terminar a licenciatura e depois seguiria a música.”

Nos Dazkarieh, gravou cinco trabalhos discográficos até 2014, ano em que a banda é extinta para dar lugar aos Seiva, projeto musical totalmente baseado na música de tradição oral portuguesa. “É um género muito semelhante ao que estávamos a fazer no final dos Dazkarieh, com a diferença que começámos do zero e com um conceito mais coerente.”

Nos Seiva, continua a fazer as recolhas do cancioneiro tradicional português que servem de inspiração para escrever e compor temas originais, que “têm também algumas influências do rock e da música alternativa”, e toca instrumentos tradicionais.

No meio desta “vida louca” abraça um novo desafio em 2019 com o projeto a solo A Cantadeira. Durante a pandemia, amadureceu a ideia e refletiu sobre o rumo a seguir. “Queria perceber quem eu era fora das bandas em que sempre estive envolvida e o que queria transmitir às pessoas.”

No decorrer deste processo, após “muitas horas a gravar no ‘loop station’ e a cantar sozinha em casa”, a voz assume-se como instrumento principal. “Sempre fui uma cantadeira e acabou tudo por se arrumar. Este projeto sumariza uma experiência de quase 20 anos de trabalho. Tudo o que aprendi estou a colocar nas camadas de voz que gravo e nas canções que faço.”

Com A Cantadeira, Joana atua sem rede, sozinha em palco, depende apenas de si própria para cantar a identidade portuguesa, numa tapeçaria de vozes inspirada nas mulheres de antigamente e nas de hoje. Nas que, como ela, são cantadeiras do dia a dia ou de simples canções de embalar.