O teatro marca o compasso da vida de José Maria Dias. Está em cada palavra do discurso do encenador e fundador do Teatro Estúdio Fontenova. “É uma paixão, um modo de vida e uma militância também.”
Aos 66 anos, orgulha-se de dizer que já dedica cinco décadas às artes cénicas. Uma paixão que começou muito cedo, mesmo contra a vontade dos pais.
“Os tempos eram outros. Fui estudar serralharia para a Escola Industrial e Comercial de Setúbal, mas não era aquilo que eu queria”, adianta o diretor do Teatro Estúdio Fontenova.
Os meses que antecederam o 25 de Abril de 1974 eram “os tempos” a que se refere José Maria Dias. Na altura, pertencia a um grupo de teatro paroquial na freguesia da Anunciada. Quando se deu a revolução, tudo mudou.
“Comecei a interessar-me ainda mais pelo teatro, participei na fundação do grupo Sobe e Desce e colaborei com outros grupos de Setúbal, como a Teia, a Presença e o grupo de teatro da Capricho Setubalense.”
No teatro já fez de tudo, desde a encenação à parte técnica, guarda-roupa, figurinos, adereços, cenários e adaptação de textos para dramaturgia. Mas nunca foi ator. “Sempre achei que era muito débil na representação ou talvez eu fosse muito exigente”, confessa.
Em 1985, forma o Teatro Estúdio Fontenova cuja primeira estreia ocorreu nas comemorações do feriado municipal, 15 de Setembro, nesse mesmo ano. Desde então a companhia, que se profissionalizou em 2002, desenvolve uma atividade regular que inclui a organização do Festival Internacional de Teatro de Setúbal.
José Maria Dias já contava com longos anos dedicados às artes cénicas quando decide tirar a licenciatura em Teatro de Intimidade, na Universidade de Évora, concluída em 2007.
“Foi apenas para ter graduação académica. Praticamente não acrescentou nada aos meus conhecimentos e experiência de vida. Depois disso ainda dei aulas durante algum tempo, mas nos últimos três anos estou inteiramente dedicado ao Fontenova.”
A companhia de teatro é a vida de José Maria Dias e da mulher, a atriz Graziela Dias. “Tivemos a sorte de nos juntarmos e de termos a mesma paixão”, sorri.
A crescente qualidade do trabalho e a persistência faz com que a companhia de teatro setubalense seja cada vez mais reconhecida e merecedora de um público fiel.
“O nosso público tem sido sempre generoso. Não temos salas muito grandes, mas temos salas persistentes. Há até pessoas que tiram férias propositadamente para assistir ao festival de teatro.”
Lamenta apenas que o teatro tenha “pouca divulgação por parte dos media” e que haja setubalenses que nem sequer saibam que aqui se realiza um festival com projeção internacional.
“É impressionante. Vem gente de todo o lado ver um festival que já conta com 25 edições e o setubalense comum não se apercebe de que existe.”
Mas a persistência é mesmo uma característica indissociável de José Maria Dias. Por isso, enquanto puder, por aqui vai continuar. “A minha vida é e sempre foi o teatro. Nunca me vi a fazer outra coisa.”