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Guia de Eventos de Setúbal

pessoa

Jerónimo Matias

"Há sempre novos desafios"

novembro 2025

“O mundo não acaba hoje. Há sempre coisas por fazer, a melhorar.” É com este espírito de mudança transformadora que Jerónimo Matias, de 79 anos, teima em encarar uma vida de trabalho repartida entre a serralharia, o labor fabril, o sindicalismo, a política e o serviço público.

Parar ainda não é opção para este filho adotivo de Setúbal, que a cidade viu chegar aos 13 anos, em busca de uma vida melhor. Os pais, operários rurais, ficaram em Santa Susana, em Alcácer do Sal. “Nascer no pós-guerra não foi um contexto fácil.” Mas, já lá vamos.

O Parque Municipal de Poçoilos é como uma segunda casa. E, ali, todos conhecem e acarinham o ‘Matias’. Não é para menos, pois a história, evolução e modernização deste equipamento dos serviços operacionais do município é indissociável do seu percurso.

“Coloquei aqui todo o meu conhecimento e experiência para transformar esta infraestrutura, agora bem organizada, com condições condignas para os trabalhadores e para dar uma melhor resposta às crescentes necessidades das populações no território.”

A reforma não o afasta de Poçoilos. “Aqui estou ocupado e ajudo com a experiência que tenho, até porque há sempre novos desafios. Hoje, como isto está, faz sentido. Possivelmente, daqui por 40 anos, vamos ter de mudar tudo. É a dinâmica da vida.”

Uma vida de trabalho que, em Setúbal, começou numa serralharia da Rua João Elói do Amaral, no Bairro do Troino, na época uma das melhores, e, antes dos 37 meses passados no serviço militar obrigatório, ainda esteve na Companhia Portuguesa de Motores e Camiões Barreiros.

Após a mobilização militar, trabalhou em várias oficinas na zona de Lisboa, para depois ingressar nos antigos estaleiros da Lisnave, em Cacilhas. Ainda retomou os estudos de formação em serralharia, em horário pós-laboral, mas ficou-se pelo terceiro ano.

Em 1974, já casado e com dois filhos, volta a Setúbal para uma carreira de encarregado fabril, na Setenave. É também por esta altura que se envolve na luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores e que vive um dos momentos mais marcantes. “Ainda hoje me emociono a falar disto”, confessa.

“Era um período de grande convulsão e cerca de dois mil trabalhadores foram despedidos. Duas mil famílias destruídas. Ainda se conseguiu um acordo minimamente favorável, mas não consegui mais. Foi difícil”, recorda, sem evitar que as lágrimas lhe cruzem o rosto carregado.

Ao labor fabril junta-se um percurso na política, iniciado em 1979, na Junta de Freguesia de São Sebastião, primeiro como secretário, depois como presidente, em dois mandatos, de 82 a 89. É também neste período que toma uma decisão que fica para a história da cidade.

“Fui o preponente do decreto-lei que criou as freguesias do Sado e de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra, separando-as de São Sebastião. Era impossível dar resposta às populações num território tão vasto.”

Foi ainda deputado municipal em Setúbal e autarca no município de Alcácer do Sal.

De olhos no futuro, diz que é preciso investir mais no serviço público para garantir uma resposta adequada às atuais exigências. “Há muita falta de massa humana.  Há profissões a desaparecer e é preciso combater isso, o que só se faz com formação, qualificação e salários dignos.”