“Ser motard é um estilo de vida que não se explica e que cada um sente à sua maneira.” A convicção, inabalável, é de Paulo Mascarenhas, partilhada há quase três décadas com camaradagem e responsabilidade social movida com sentido de missão no Moto Clube de Setúbal. “Não me vejo de outra maneira.”
Aos 48 anos, o setubalense reparte a profissão de operador fabril com a presidência, há mais de oito, do clube que ajudou a fundar em 1997. O bichinho das motas veio do pai, que também foi o grande mentor do espírito motard que trilha na vida desde sempre.
“Éramos um grupo de putos. Batíamos as concentrações, as poucas que havia na altura, como Faro, Góis, Serra da Estrela e Almodôvar. Numa noite dessas concentrações, já bem bebida, surgiu a ideia. ‘Tão, e nós não fazemos uma brincadeira destas na nossa cidade, que é capital de distrito?”
Fizeram uma garraiada, a 18 de agosto de 1997, na Quinta do Ti Manel, perto do Bairro dos Polícias. “Coincidiu com Góis. Metemos umas quinhentas pessoas. A coisa correu tão bem que, em setembro, fizemos outra. Tivemos mais de três mil entradas.” No ano seguinte, veio a primeira concentração.
O primeiro grande evento trouxe uma viragem. O trabalho com outras vertentes, entre as quais, a social. “Apercebemo-nos que, no nosso grupo de sócios, havia familiares com necessidades e não havia respostas suficientes. Foi o nosso boost, que continua até hoje.”
Associam-se a projetos solidários e dinamizam campanhas solidárias, como o Desfile de Pais Natal Motard, e apoiam quem mais precisa. “Não damos dinheiro, mas já pagámos operações, tratamentos e material médico e demos cadeiras de rodas, equipamentos informáticos e eletrodomésticos.”
Nascido e criado em Setúbal, quando não se encontra na fábrica está no Moto Clube de Setúbal ou a andar de moto, uma Honda Pan European 1300. “É a décima segunda. Já tive todos os tipos. Felizmente, nunca mandei nenhuma para a sucata. Espero que não seja esta. Quero subir o patamar para a Gold Wing.”
A concentração de Faro é a meca nacional para os motards. “Essa temos de ir. É a terceira maior da Europa. A nível internacional, vamos a Valladolid, Espanha, para a Pinguins.”
E vão a outras, como a da Serra da Estrela, que abre o calendário, e a de Beja, que encerra. “Não dá para ir a todas!”
Em construção está a nova sede, num terreno cedido pelo município de Setúbal no Parque Sant’Iago. “Vai permitir a realização de eventos ao longo de todo o ano e, ao mesmo tempo, aproximar a comunidade, com espaços para criação artística e divulgação de projetos.”
O Moto Clube de Setúbal faz parte do ADN de Paulo Mascarenhas. “Não me vejo a ter outro estilo de vida, independentemente da ‘patente’. Já perdi empregos e namoradas em prol do clube. Tenho um filho de 22 anos, também motard, já com as cores todas e, como costumo dizer, o Moto Clube de Setúbal é o irmão mais velho.”
As cores do dorsal estampadas no colete são conquistadas a pulso, em duas partes, a faixa e o escudo, independentemente do tempo de casa. “A dedicação, o trabalho em prol do clube, a camaradagem e a entreajuda. Todos sabem fazer alguma coisa. E, tudo conta.”
O espírito motard é apenas um modo de estar na vida. “Podes fazer a pergunta sobre o que o é o espírito motard a cem pessoas e todas te vão dizer coisas diferentes. É uma vontade individual, que é de todos, e que cada um sente à sua maneira.”