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Guia de Eventos de Setúbal

pessoa

Sebastião da Gama

“Amar com prazer, sem limites, fronteiras, horizonte”

março 2024

É fácil falar com Sebastião da Gama. O poeta e professor nascido em Azeitão, concelho de Setúbal, vê a vida como um caminho de amor, não faz nada sem usar afeto, sensibilidade e generosidade e sente sempre uma necessidade ávida de abraçar tudo, de se aproximar de pessoas.

“Ser gente, cá para mim, é confraternizar, é falar com o vizinho, é não ser um estranho. Andamos no mundo quase todos como se fôssemos desconhecidos uns dos outros”, reflete.

Aos 27 anos, Sebastião da Gama tem muito para escrever. Seis anos antes, em dezembro de 1945, publica “Serra-Mãe”, sobre a sua união profunda com a natureza.

A Arrábida é a grande inspiração. No livro e em cartas diz que chega a julgar a serra por mãe, que a serra ocupa “um dos bocados” do seu coração, que é “como uma mulher”, uma “presença humana”, que sente “saudades” dela, “se longe”, como “de uma namorada”.

A linguagem simples, mas profunda, a rima, os versos fluídos, sem correntes, fazem dele um dos escritores mais reverenciados da sua geração. Durante os cinco anos de faculdade cria relações de amizade com escritores e docentes pela forma de ser – um talento que impressiona, mas também uma vivacidade e uma humildade que deslumbram.

“O segredo é amar. Amar a vida com tudo o que há de bom e mau em nós. Amar por mil razões e sem razão. Amar, só por amar, com os nervos, o sangue, o coração”, constata Sebastião sobre a sua visão de vida. “Viver em cada instante a eternidade e ver, na própria sombra, claridade. O segredo é amar, mas amar com prazer, sem limites, fronteiras, horizonte”, realça.

Para ele não há “coisa mais linda do que um grito quando foi o Amor que o pôs cá fora”.

Parte do reconhecimento em torno do poeta, que estudou, como aluno voluntário, Filologia Românica, na Faculdade de Letras de Lisboa, vem da visão que tem da poesia – “o poema é uma ponte do Poeta para o mundo”, diz-nos, através do qual é possível ir até à verdade. “Sei uma porção de coisas que a Poesia me ensinou.”

Da infância fala com ternura. “Quando eu nasci, não houve nada de novo senão eu. Pra que o dia fosse enorme bastava toda a ternura que olhava nos olhos de minha Mãe.”

Sebastião da Gama nasce a 10 de abril de 1924 em Vila Nogueira de Azeitão, onde estuda até terminar o liceu. Aos 14 anos, é-lhe diagnosticada tuberculose óssea.

A conselho médico, ele e a família mudam-se para uma casa no Portinho da Arrábida, onde, rodeado de verde e com o rio a servir de pano de fundo, escreve e desenvolve intensa consciência ambiental.

Em “Região dos Três Castelos”, redigido em maio de 49, defende que “Portugal começa na Península de Setúbal a ser a maravilha de que falam os livros”.

Aos 19 anos, apaixona-se por uma vizinha, Joana Luísa, com quem troca, durante anos, correspondência e vem a casar. “Nada mais bonito do que ser casado”, desabafa.

Em 1951, divide o tempo entre a escrita, a reflexão e a Escola Industrial e Comercial de Estremoz, onde ensina jovens. “Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho.”

A vida é assim para Sebastião da Gama, que faria agora 100 anos. “De minha vida não sei senão que sou feliz.”