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bastidores

A arte do resnascimento

novembro 2024

Os 14 painéis que compõem uma das mais representativas obras da pintura portuguesa do século XVI estão de volta ao Museu de Setúbal, após um complexo e ambicioso projeto de conservação e restauro. Retoque nas cores e fotografia científica antecedem regresso

 

É do século XVI, do tempo do Renascimento, substantivo que se aplica na perfeição ao Retábulo da Capela-Mor da Igreja do Convento de Jesus, transferido agora para o Museu de Setúbal, já que a conservação preventiva e o restauro a que foi sujeito ao longo dos últimos meses lhe deram mais vida.

Mas, antes de ser devolvido à cidade e a quem a visita, no museu ao qual sempre pertenceu e de onde saiu em 1993, é preciso pegar em pigmentos, solventes, vernizes e pincéis e retocar minuciosamente a pintura.

Maria José Francisco, conservadora-restauradora de pintura do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, pertence à vasta equipa que, por estes dias, tem dedicado a maior parte do tempo a finalizar o restauro desta obra atribuída à oficina de Lisboa de Jorge Afonso.

De lupa na testa, defronte de um dos quadros das três séries – “A Paixão de Cristo”, “A Infância de Jesus”, ou “As Alegrias da Virgem”, e “Santos Franciscanos” –, vai devolvendo à obra as características originais, intervindo o mínimo possível.

“O que estou a fazer neste momento é o retoque da pintura, que é a aproximação progressiva da cor através de velatura, ou seja, de camadas muito finas, com o objetivo de deixar transparecer a tinta que está por baixo nas zonas onde existe perda original”, refere.

A conservadora-restauradora, em funções na Câmara Municipal desde 1992, participa na fase de restauro para emendar lacunas, numa prova de perícia em que é “imprescindível utilizar materiais de boa reversibilidade e compatíveis com os originais”, explica a técnica.

A presente intervenção de retoque está a ser feita em simultâneo com o levantamento de fotografia através de diversas técnicas como macrofotografia e reflectografia de infravermelhos, a qual permite aceder a pormenores da pintura invisíveis a olho nu e mesmo ao que está por baixo das camadas de tinta, fornecendo imagens digitais do chamado desenho subjacente de Jorge Afonso.

O valor desses registos, realizados por Luís Bravo e Luís Piorro, do Laboratório José de Figueiredo, “é particularmente relevante para avançar no conhecimento da técnica pictórica e dar suporte ao estudo da comunidade científica”, sublinha Michelle Santos, chefe do Serviço Municipal de Museus da Divisão de Cultura e Património, para quem o retábulo, “além de um ex-líbris do Renascimento, é uma fonte inesgotável de informação”.