Inaugurada em 1965 com pompa e circunstância, a Praça do Brasil passou a ser morada da classe média-alta de Setúbal. Ali se fizeram amizades, brincadeiras e até bailes. A autarquia devolveu-lhe agora o modelo de outrora
No princípio havia apenas a estação de comboios e chão em terra batida.
Vários prédios entre os cinco e sete andares, casas modernas com mais de três assoalhadas, à venda por cerca de 130 contos (o equivalente a 650 euros), secções de lojas na parte inferior, a vista para o progresso setubalense, onde a vizinhança se foi fazendo amiga.
A Praça do Brasil abria as portas dos primeiros edifícios, no início dos anos 60, para servir de habitação a famílias com escolaridade e rendimentos mais altos. Ao longo dos anos, passa a haver cafés, mercearia, farmácia, papelaria, além de um parque infantil, com balancés, baloiços, carrossel e espaços para jogos do pião e do berlinde.
Havia ainda zonas relvadas, onde as crianças jogavam à bola até à hora de jantar, sempre com a preocupação de não aparecer uma autoridade zangada. Naquele território, no lado norte da cidade, chegaram até a realizar-se bailes dos santos populares.
Com pompa e brilho, a Praça do Brasil foi oficialmente inaugurada no dia 16 de setembro de 1965, na cerimónia de descerramento do busto ao poeta brasileiro Olavo Bilac, por ocasião das comemorações do II centenário do nascimento de Bocage.
Do então Presidente da República, Américo Tomás, ao presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Manuel José Constantino de Goes, do chefe da missão brasileira às comemorações, Elmano Cardim, a diversas figuras do Estado do Brasil, as dezenas de moradores, populares e estudantes assistiram à cerimónia de inauguração do busto.
“A oferta é justificada pelo facto de Bilac ter sido um dos grandes admiradores de Bocage. O busto será localizado numa das principais praças de Setúbal, que passará a ser chamada de Praça do Brasil”, noticiava o jornal O Setubalense.
A origem do nome Praça do Brasil guarda assim a memória da aliança de poesia luso-brasileira da época, reforçada pelas figuras de Bocage e Olavo Bilac.
Na década de 80, a paisagem ficou radicalmente diferente, com a construção de um parque de estacionamento para automóveis e a função de logradouro perdeu-se.
A Câmara Municipal de Setúbal devolveu este ano a Praça do Brasil às pessoas, conferindo-lhe a dignidade de antigamente, com espaços verdes, zonas para convívio e área infantil.