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Guia de Eventos de Setúbal

pessoa

António Saramago

“Levo Setúbal para todo o lado”

janeiro 2018

Dizem que pelas mãos de António Saramago já passou tanto vinho que a quantidade seria suficiente para fazer correr um rio. Aos 70 anos, o enólogo natural de Vila Nogueira de Azeitão conta mais de cinco décadas a viver para a vinha e para o vinho.

Com uma longa história ligada à região vitivinícola de Setúbal, António Saramago soube espalhá-la pelo mundo, com o seu nome e a sua casa a serem respeitados na comunidade da enologia.

É detentor de prémios nacionais e internacionais, eleito enólogo do ano 2011 num concurso internacional e em setembro passado foi agraciado pela Câmara Municipal de Setúbal com a Medalha de Honra da Cidade.

“Não esperava. Foi o reconhecimento de uma vida de trabalho, por tudo o que tenho feito em prol da enologia portuguesa. Levo o nome de Setúbal para todo o lado e isso é muito importante”, refere.

Tudo começou na Rua das Parreiras, em Azeitão, onde nasceu e viveu até à adolescência, altura em que perdeu a mãe. Aos 14 anos, foi levado pelo pai para as adegas da casa José Maria da Fonseca e começou logo a trabalhar lá.

“Diziam que eu era novinho, mas que provava bem. Apostaram em mim e mandaram-me ir estudar para fora”, recorda.

Em Bordéus, França, formou-se no Instituto Superior de Enologia com mestres mundiais da área dos vinhos. “Havia um professor que era chamado de ‘O Papa do Vinho’ e tive o privilégio de ser aluno dele.”

A partir daí, António Saramago nunca mais parou. “Tenho trabalhado muito, tenho muito orgulho dos princípios e valores com que fui educado. Mantenho a mesma paixão pelo vinho e pela enologia que já sentia há 50 anos quando comecei”, assegura.

Enquanto caminha pela Quinta de Catralvos – a vinha é o seu local de eleição e onde se sente em casa –, o engenheiro Saramago recorda a evolução da produção vínica ao longo dos tempos.

“Hoje conseguimos controlar a maturação da uva de uma forma mais técnica e analítica, com um controlo mais rigoroso. Hoje há controlos de açúcar e de acidez, todo o tipo de controlos, e são os equipamentos que determinam a vindima. Antigamente era a nossa boca que determinava se a uva estava boa ou não para a vindima.”

Mas há técnicas das quais não abdica. “As minhas uvas são todas apanhadas à mão. Tudo é manual, apanhado com a tesourinha e colocado em caixas de 20 quilos”, afirma, ressalvando a importância do controlo rigoroso no segredo da produção. Transversal a todas as épocas “é que tudo isto acaba na adega”.

E é precisamente na adega de António Saramago que está a ser desenvolvida uma produção especial, a realização da sua vida. “Estou a fazer um vinho para homenagear os meus netos. Vai chamar-se António Saramago Sucessão e vai ser um trabalho fantástico. Vou engarrafar uma pipa igual para os três. Estamos a falar de 400, 500 garrafas de um vinho”, revela, com a certeza de que esta produção será para ele como uma epifania.

“Vai ser um dos melhores vinhos da minha vida. Os meus netos merecem isso. É quase como se fosse um legado que lhes vou deixar, um mealheiro”, diz, porém não escondendo que, lá no fundo, pretende com isto deixar marca no coração dos descendentes e despertar-lhes, assim, a vontade de seguirem as suas pisadas.