O povo reivindica mais qualidade de vida e uma habitação digna está no topo da lista. O Governo decide criar um programa especial para envolver os moradores na construção das próprias casas. Setúbal é um dos primeiros concelhos a avançar com os bairros SAAL
No 25 de Abril de 1974, milhares de setubalenses viviam em casas com poucas ou nenhumas condições de habitabilidade. O problema era transversal ao país e motivou uma solução urgente.
De acordo com Francisco Lobo, em “Histórias de Setúbal”, cerca de 16 mil setubalenses viviam “em bairro de lata ou em zonas degradadas e insalubres”.
Em muitos locais, habitavam-se casas velhas, noutros, havia barracas construídas clandestinamente.
No livro “Fartas de Viver na Lama”, Jaime Pinho descreve como viviam as pessoas no Castelo Velho, na zona do Viso, em casas sem abastecimento de água ou luz, rodeadas de lama, sujidade, bichos e cheiros nauseabundos provenientes das valetas onde afluíam os esgotos.
Após a revolução, os moradores unem-se para reivindicar habitação decente, ocupam casas devolutas e ameaçam por lá continuar se não tiverem alternativa. A oportunidade de construírem o próprio bairro surge com o SAAL – Serviço Ambulatório de Apoio Local, programa do Governo para garantir o direito à habitação digna.
Em Setúbal, no verão de 1975, avançam seis operações SAAL para realojar as mais de 900 famílias que viviam no Casal das Figueiras, no Castelo Velho, no Bairro Dias e Monarquina, nos Quatro Caminhos e Pinheirinhos, na Terroa de Baixo e no Bairro da Liberdade.
O terreno para a construção do novo bairro no Castelo Velho é um dos primeiros que o Estado disponibiliza a nível nacional e em maio de 1975 avança a primeira fase de construção.
Tudo é falado e decidido em conjunto com os moradores. No Castelo Velho, são eles que escolhem o nome do novo bairro, Grito do Povo.
Em dezembro de 1976, as primeiras famílias mudam-se para as novas casas. Onze anos depois, o Grito do Povo está completamente diferente. Aqui, e nos restantes bairros SAAL, as barracas deram lugar a casas dignas.
A qualidade de vida das populações melhorou, em grande parte fruto do trabalho desenvolvido pelo Poder Local Democrático. Veio o abastecimento de água e o saneamento básico. Construíram-se estradas e passeios, espaços verdes e parques infantis.
Hoje, os bairros estão ainda mais diferentes. A Câmara Municipal de Setúbal avançou, nos últimos anos, com vários projetos de requalificação urbana.