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Guia de Eventos de Setúbal

pessoa

“Colocámos o clube na ribalta”

Fernando Pedrosa

março 2019

Os olhos cerram-se e as memórias fluem, qual bola de futebol a rolar frenética após o apito inicial do árbitro. O livro de recordações de Fernando Pedrosa, 88 anos a 5 de abril, delicia bancadas como a mais bem disputada final de um Campeonato do Mundo.

“Quando vi aquele mar de gente do alto da varanda, senti uma responsabilidade ainda maior perante o clube e a cidade. Arrepiante… ‘Vitória! Vitória! Vitória!’… Não tínhamos conquistado só uma taça. Colocáramos o clube na ribalta e não podíamos defraudar ninguém.”

É desta forma que Fernando Pedrosa recupera o momento quando, ao leme da presidência, liderou o Vitória Futebol Clube à conquista da primeira Taça de Portugal, em 1965, logo diante o Benfica.

Como dirigente máximo, cargo que assumiu por quatro ocasiões, somaria, por exemplo, outra Taça de Portugal, uns quartos de final da Taça UEFA e uns oitavos na Taça das Taças.

Cerra os olhos e brinca com nova memória. “A Taça Teresa Herrera [conquistada pelo Vitória em 68] veio da Corunha para Setúbal em cima do tejadilho do carro de um amigo.”

Presidente ou não, intercalou 16 anos em direções do clube. Tinha 27 na estreia, em 1958, como adjunto do vice-presidente para o futebol.

“A primeira vez que assisti a um treino, o Vaz, o Jacinto e outros rematavam no final da sessão. Fiquei a ver ao lado da baliza e os tiros zumbiam-me. Queriam correr com o ‘miúdo’. Foi este o meu início, a fugir das bolas dos avançados.”

Setubalense, carreiras de despachante oficial e agente de navegação, admite que o amor ao clube sadino era inevitável.

“A primeira vez que fui ao futebol, no Campo dos Arcos, o porteiro perguntou-me a idade. Tinha 10 e já pagava. O meu pai, homem do antigamente, resumiu: ‘Vai comprar o bilhete. Amanhã és sócio.’ Assim foi.” O cartão indica o 15 e, sabe, não há outro associado vivo com número abaixo.

Inovador, modernizou o clube, estando na origem do Estádio do Bonfim.

Conquistou consideração com cordialidade, mas sem medo de quebrar regras. As reuniões de direção eram às quintas-feiras, depois do “apronto”, principal treino da equipa para a jornada. Delas saíam indicações sobre os titulares de domingo.

“Ao terminar a minha primeira reunião perguntaram-me qual seria a linha. ‘– Qual linha?! – Não falou com o treinador? – Eu não! Se lhe pagamos e é bom no que faz [Fernando Vaz], porque serei eu a dizer-lhe quem joga?! Olhe, a partir de agora as reuniões de direção passam a ser às terças.” É assim ainda hoje.

O livro de recordações de Fernando Pedrosa está enriquecido muito para lá das quatro linhas do Bonfim.

É comendador da Real Ordem de Isabel a Católica, de Espanha, Medalha de Honra da Cidade, 1992, e Prémio Carreira na Gala do Desporto, 2019, ambos por Setúbal.

Cônsul honorário de Espanha em Sines, fruto da atividade no porto local, também foi vereador da Câmara Municipal de Setúbal e esteve em direções desportivas nacionais, como a Federação Portuguesa de Futebol, de solidariedade, como a Santa Casa da Misericórdia, e empresariais.

“Sem as secretárias, as quatro magníficas, como lhes chamo, não teria sido possível. Envolvi-me sempre muito na minha cidade e com as atividades extraprofissionais.”