O que está por trás da janela da cabina de projeção, como se chega à concretização de uma sessão, quem são as pessoas que todos os dias abrem as portas à sétima arte. Este é o bilhete de acesso aos bastidores de uma das mais icónicas e acarinhadas salas de cinema da cidade
São duas e meia quando a bilheteira abre. Na entrada do Cinema Charlot – Auditório Municipal, quebra-se o silêncio. A voz, o sorriso e as mãos de Amélia Oliveira, em funções no equipamento cultural desde a abertura, dão as boas-vindas aos que chegam para comprar bilhetes ou levantar os ingressos reservados pela internet.
É dia de estreia do aclamado filme “On Falling”, de Laura Carreira. O cartaz está afixado na fachada e a equipa da emblemática sala de cinema setubalense, coordenada por Carlos Anjos, está, como é habitual, nos bastidores, alinhada para proporcionar perto de duas horas de arte aos espetadores.
É cinema e os projecionistas são, de resto, os atores centrais para a magia acontecer. Não podem abandonar a cabina durante o filme para garantir que tudo corre sem percalços.
Nuno Gonçalves e Carlos Alberto Santos, assistidos por Silvana Silva, são os projecionistas do Cinema Charlot. Na sala de projeção, à qual se acede subindo uns lances de escadas, contam, com entusiasmo, lembranças do princípio da sala, inaugurada pela Câmara Municipal em 31 de maio de 2000.
Destapam uma Christie SLC, instrumento de outros tempos, imponente, capaz de projetar 70 mm e 35 mm num auditório que, no átrio, também guarda como marca do passado um painel de azulejos com a figura de Charlie Chaplin e várias bobinas.
É para o momento em que toca a campainha, o público entra e as luzes se apagam que a equipa trabalha na maior parte das vezes até à uma da manhã, apoiados por assistentes como Amélia Oliveira, da bilheteira, e Gracinda do Rosário, com a função de acolher os cinéfilos e facilitar a entrada aos retardatários.
Todos os dias, incluindo fins de semana, há filmes em diferentes horários: “Temos uma programação de quinta a quarta-feira, onde passamos um filme sempre às nove e meia da noite, que também passa ao fim de semana, às quatro da tarde. Todas as quintas e sextas temos também um filme às seis da tarde, que, normalmente, é um filme de autor ou pertence a um ciclo, ou são cópias digitais restauradas…”, como explica Débora Silva, da direção da Associação Cultural Festroia, entidade responsável pela programação cinematográfica, em colaboração com a Medeia Filmes e a Câmara.
Este ano, para assinalar os 25 anos do Cinema Charlot – Auditório Municipal, que, para lá da sétima arte, é casa de teatro a conferências, a programação é dominada por maratonas de imagens e um concerto.