O novo projeto da Associação Setúbal Voz está a ser preparado, com a participação das várias formações de canto, sob a batuta de Jorge Salgueiro. Esta noite o ensaio é especial, com a presença de António Victorino d’Almeida
Segunda-feira, início da noite. Companhia de Ópera de Setúbal, Ateliê de Ópera de Setúbal e Coro Setúbal Voz, todos da Associação Setúbal Voz, voltam a reunir-se no auditório da Escola Secundária Lima de Freitas para preparar a nova ópera, a estrear-se em dezembro.
O momento é especial, com entusiasmo evidente nas cerca de sete dezenas de cantores, profissionais e amadores, em função da presença do autor da música de “1911, A Conspiração da Igualdade”, o compositor e maestro António Victorino d’Almeida.
“Tentei fazer música que, parece-me, se coaduna com o espírito e a estética pretendidos”, revela a propósito da segunda ópera de uma tetralogia operática original sobre constituições portuguesas.
Além de “1911, A Conspiração da Igualdade”, a tetralogia operática engloba “1822 – Mautempo em Portugal”, já estreada em julho, e “1976 – A Evolução dos Cravos” e “2030 – A Nova Ordem”, ambas a apresentar em 2024.
A interpretação é da Companhia de Ópera de Setúbal, com o Ateliê de Ópera de Setúbal e o Coro Setúbal Voz, todos do projeto artístico com base no canto lírico e na música e artes contemporâneas da Associação Setúbal Voz.
A apresentação de excertos da ópera pelas sopranos Mariana Chaves e Célia Nascimento antecede o ensaio, praticamente sem a presença de música, conduzido por Jorge Salgueiro, também responsável pela direção artística do projeto.
“Sopranos, contraltos, depois dois compassos de espera para entrarem todos.”
A indicação do maestro marca o arranque do primeiro ensaio semanal – o outro é às quintas-feiras –, iniciado pelo coro final do primeiro ato da ópera.
Vozes de homens e mulheres soltam-se a diferentes ritmos, timbres e projeções. Procura-se a harmonia, a perfeição, com compromisso, sentido e emoção. Um caminho musical feito de altos e baixos.
“Os homens têm de entrar logo, com mais voz”, corrige o maestro. As repetições sucedem-se. Uma, duas, três ou mais. As necessárias até se chegar aonde se quer. “Ok, agora estão com energia!”
A “frase mais difícil de toda peça”, partilha Jorge Salgueiro, é lançada a desafio já o ensaio vai praticamente com uma hora. “Estava um tom abaixo na última nota”, aponta às cantoras, especificamente ao conjunto de sopranos.
As melhorias surgem a cada nova tentativa. Há que ajustar para se alcançar precisão, equilíbrio e unidade. Uma vez mais, agora do princípio ao fim. “Ainda não está perfeitinho, mas havemos de lá chegar”, incentiva.
O final do segundo ato da ópera também está no programa, agora sem música. “Ainda só estamos a ver ritmo”, frisa Jorge Salgueiro, num momento de aprendizagem pautado por inúmeras correções.
Repetições, outra e outra vez, fazem o caminho de quase duas horas de ensaio. O resultado é positivo e o melhor elogio vem com aplausos de António Victorino d’Almeida. “Já foi francamente bem.”
O momento final reserva a interpretação de “Lacrimosa”, de Mozart, que também integra a ópera “1911, A Conspiração da Igualdade”, com apresentações a 1, 2 e 3 de dezembro no Fórum Municipal Luísa Todi.