Há pouco mais de uma década, a autarquia pegou num imóvel do século XVIII, protagonista na cidade sobretudo por ter albergado uma associação cultural histórica, e fez dele uma casa, mantendo o que havia de mais nobre: a cultura
A Casa da Cultura comemora em outubro o décimo primeiro aniversário. Foi do arquiteto Gonçalo Silva o projeto de requalificação do edifício onde funcionou o Círculo Cultural de Setúbal, localizado na Rua Detrás da Guarda, junto da Praça de Bocage, e que chegou ao final da década de 90 num avançado estado de degradação.
A Câmara Municipal, que o quis ver recuperado e transformado em equipamento para a cidade, fez dele Casa da Cultura, um dos principais polos de dinamização artística do concelho, com o envolvimento do movimento associativo e com galerias de exposição, espaço de artes, sala e estúdio de ensaio e gravações, salão nobre, auditório multiusos, centro de documentação, café, pátio e loja.
A reabilitação do edifício, feita entre 2009 e 2012, manteve as principais características arquitetónicas. Entre os elementos preservados destacam-se as grossas paredes em pedra, assim como as guardas das varandas em ferro.
Já a construção do imóvel, resultante da reconstrução na cidade após o terramoto de 1755, começou há mais de 250 anos. O projeto, pensado para servir de palácio, com dois pisos, sótão para as empregadas e logradouro, incluiu salas de música, de baile e de leitura.
Sendo uma edificação que seguia de perto os princípios da época – finais do século XVIII e início de XIX –, foi sempre de grande classicismo, com azulejos e pinturas murais nas paredes e nos tetos.
Servindo de habitação até aos anos 70 do século XX, altura em que saiu o último residente, o médico José Machado, que transformou parte do espaço em consultório médico, com sala de exames e tudo, o edifício teve múltiplos usos. Foi local para sede de grupos teatrais, como o Hora Viva, a Teia ou o Teatro Estúdio Fontenova. Já mais recentemente, alguns dos espaços foram convertidos em lojas.
Foi também neste edifício que funcionou, a partir de 1975, o Círculo Cultural de Setúbal, vindo da Avenida 5 de Outubro, uma voz contra a ditadura, ligada ao incremento do acesso à cultura, onde Zeca Afonso e Dimas Pereira chegaram a dar aulas.
Inaugurada a 5 de outubro de 2012, a Casa da Cultura, além da oferta artística, vale a visita pelo significado que tem e por ser um testemunho único da identidade coletiva setubalense, símbolo de memórias e de projeção do futuro.