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Guia de Eventos de Setúbal

bastidores

Laranja mecânica

março 2019

O basquetebol dribla forte no Scalipus Clube de Setúbal. O tempo é de fulgor, de sucessos que começam na formação. Um sprint desportivo de mais de quatro décadas, feito de altos e baixos, sempre com empenho no treino  

É dia, ou melhor, noite de treino do Scalipus Clube de Setúbal. É o primeiro da semana para os sub-18 e, por isso, há entusiasmo redobrado no Pavilhão das Manteigadas. Enquanto se bate umas bolas, trocam-se dois dedos de conversa. Por breves minutos, porque o apronto está para começar.

Já passa das nove e meia e não há tempo a perder. É preciso montar as tabelas, tarefa garantida pelo treinador e presidente do clube Joaquim Cambolas, com os técnicos Nuno Santos e António Raminhos. Os jogadores também participam. Faz parte do ritual de aquecimento.  

Em campo estão já perto de duas dezenas de atletas, incluindo alguns seniores. Ao apito de Joaquim Cambolas, o som errático que ecoa no pavilhão cessa. “Bóraaaa!” Num ápice, jogadores formam ao centro para conhecer o programa de duas horas.  

No primeiro exercício há dribles, passes e lançamentos. Atento, o técnico observa a partir da linha de meio campo. “Passa e corre, passa e corre!” É a primeira advertência para os atletas sub-18, que, em janeiro, se sagraram campeões distritais e seguiram para o nacional.  

Já passa das dez quando chega um reforço. “Atão pá, isto é que são horas?” A reprimenda a Aaron é em tom de brincadeira. Entretanto, há novos aspetos técnico-táticos do jogo a trabalhar. “Drible rápido, mudança de direção e sprint, entrar lá dentro e lançamento. Boraaaa!”

Entre os jogadores há camaradagem, independentemente do desfecho do exercício. O treinador do Scalipus, clube fundado a 23 de abril de 1975, está insatisfeito. Abana a cabeça, gesticula e corrige. Volta a corrigir, mas não surte o efeito desejado.

O som do apito irrompe. “Pessoal, intensidade, está bom. Mas falta qualidade. Quero bolas no cesto. Não ganhamos jogos com dez dribles em 24 segundos. Vá, mais uma rodada a todos.” Desta vez, os conselhos são acatados, com resultados visíveis.

A sessão caminha a passos largos para o fim. Antes do minijogo que culmina a sessão, tempo para testar a vertente defensiva, a qual o treinador insiste que tem de “ser mais agressiva”. Mais uma afinação rumo ao sucesso da “laranja mecânica” que é o Scalipus.

A equipa sub-18 treina praticamente todos os dias. Para os outros escalões a periodicidade é menos exigente, incluindo para os sub-16, que também se sagraram campeões distritais. No total são mais de 170 atletas em 13 equipas, a treinar em vários pavilhões da cidade.

“O Scalipus está a ombrear a nível nacional”, afirma, com orgulho, Joaquim Cambolas. A formação está a dar frutos e o paradigma do clube mudou. “Há uns anos, o pessoal perdia por dois e ficava todo satisfeito. Agora, é para ganhar por vinte.”

No ADN do clube está o espírito familiar e a premissa de que o desporto deve estar em sintonia com os estudos. “Quem vacila na escola fica também com problema no basquetebol, e isso não queremos. Quando precisam, ajudamo-los, e até já demos explicações na sede.”

O Scalipus veste de laranja e azul, em homenagem à típica laranja setubalense e ao Sado, rio que inspira o próprio nome. Nicolau Tavares, um dos sócios fundadores do clube que começou pelo futebol de salão, desvenda o batismo invulgar.

“Calipus era o nome que os romanos davam ao rio, enquanto o ‘s’ está relacionado com palavras ligadas à identidade da cidade, como Setúbal, Sado, sal, sardinha e salmonete”, revela sobre o Scalipus, recém-distinguido na Gala do Desporto setubalense com o galardão de “Melhor Clube” de 2018.