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A morte de Marat
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A morte de Marat

julho 2025

Jean-Paul Marat foi médico, cientista, filósofo, jornalista e político nos tempos da Revolução Francesa. Com uma postura radical e intolerante, conduziu milhares de pessoas à guilhotina, supostamente em nome da vontade do povo, despertando paixões de uns e ódios de outros.

Marat padecia duma doença de pele que lhe causava grande sofrimento, encontrando alívio quando em contacto com a água. Desse modo, passava muito tempo na banheira, aproveitando-o para ler e escrever, tendo nela sido morto com uma facada no peito, desferida por uma mulher revoltada com a sua atuação sanguinária.

A mulher, até aí desconhecida e agindo isoladamente, terá entrado nos seus aposentos alegando ter uma mensagem para lhe entregar. O papel que tem na mão alude à suposta mensagem, fazendo parte da encenação criada pelo pintor, nele estando escrito “No dia 13 de julho de 1793, de Marrieanne Charlotte Corday para o cidadão Marat. Basta estar muito triste para ter direito à vossa gentileza”.

Algumas folhas de papel, em que ele estaria a trabalhar, estão debaixo do antebraço, uma outra está sobre o apoio de madeira, ao lado do tinteiro e duma pena. Nesse apoio, semelhante a uma lápide, está escrito “A Marat, David”, dedicatória em jeito de homenagem, muito parca de palavras mas carregada com a estima que o pintor, Jacques-Louis David, tinha pelo amigo político.

O fundo do quadro é uma penumbra em tons de cinzento, fazendo sobressair os tecidos, um branco, que cobre o fundo e os rebordos da banheira, outro verde, que cobre a tábua sobre a qual o pensador escrevia. De entre eles emerge o corpo de pele marmórea, modelado por uma luz suave, com um pano húmido enrolado à cabeça.

A faca que o matou está no chão, ensanguentada. Do golpe escorre sangue, que já tingiu de vermelho a água da banheira, havendo também marcas dele no tecido branco e dedadas no papel. A mão que segura o papel acabou de perder ação, a que segura a pena pendeu para o chão, abandonada, deslizando os dedos até à ponta da pena com que escrevia, como que calando-a. A cena representa, pois, o momento em que Marat deu o último suspiro.

António GalrinhoArtista plástico

Esta crónica é dedicada a Álvaro Arranja, professor e historiador recentemente falecido.

 

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