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São José Carpinteiro
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São José Carpinteiro

novembro 2024

Georges de La Tour é um pintor francês da primeira metade do século XVII, de quem se conhece poucas dezenas de quadros. Contudo, a maior parte deles destaca-se por uma caraterística surpreendente, que faz com que sejam particularmente encantadores.

Dessas obras ressalta de imediato à vista o forte contraste entre zonas escuras e zonas diretamente iluminadas, ocupando os fundos negros e as superfícies em sombra e em penumbra uma larga superfície da tela. Contudo, o detalhe mais relevante está no facto de a fonte de luz que ilumina a cena ser uma vela que se encontra no interior do próprio quadro.

Com frequência, essa vela apresenta chamas longas, estando algumas total ou parcialmente tapadas (ou seja, interditas ao olhar do observador) por uma mão, uma manga ou um objeto que, desse modo, fica em contraluz.

Neste São José Carpinteiro, a chama é tão grande e a mão que a tapa é tão pequena, que apenas o seu terço inferior fica oculto. Dada a proximidade e intensidade da chama, o rosto do Menino ganha uma luminosidade de tal modo forte que lhe retira volumetria. Repare-se no registo da luz, que passa avermelhada através dos dedos, como sucede quando encostamos a mão a uma lâmpada muito forte.

O foco do quadro localiza-se no triângulo formado pelos rostos e pela vela, sendo curioso o facto de os olhos se dirigirem não para a chama, mas para o fumo que dela sai. Em contexto religioso, a verticalidade da vela e da chama simboliza a passagem do mundo material para o espiritual, sendo o fumo a aproximação ao divino.

A luz mostra o caminho para o conhecimento da verdade em Deus, em oposição ao obscurantismo e à ignorância, simbolizados pela escuridão. No rosto do Menino há mais luz do que na vela, querendo isso dizer que a luz espiritual está (ou vai estar, já que aqui é uma criança) em Cristo.

Contudo, o quadro também contém presságios. A pua, com que São José fura um bloco de madeira, apresenta-se em forma de cruz, bem direita. O maço e o formão têm paralelo com o martelo e os cravos que martirizarão Cristo na cruz. A pequena espiral de apara de madeira, que está no chão, indica o curto tempo de vida que Cristo terá na terra.

António GalrinhoArtista plástico

 

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