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Os sobreviventes
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Os sobreviventes

julho 2024

Influenciada por ideais socialistas e pacifistas, muito cedo a obra da artista alemã Kathe Kollwitz se mostrou dramática e arrebatadora, focada nas injustiças sociais, no sofrimento dos miseráveis e andrajosos, nas famílias pobres e nos trabalhadores explorados, mas também nas revoltas e na solidariedade.

Mais tarde, a guerra entrou inevitavelmente na sua arte, já que viveu as duas guerras mundiais, registando situações dramáticas de soldados, civis, homens, mulheres e crianças, viúvas e órfãos, prisioneiros, mortos, feridos, enlouquecidos ou estropiados.

Como mulher e mãe sofreu o muito amargo gosto da perda, já que lhe morreu um filho na 1ª Guerra Mundial e um neto na 2ª. No decorrer desta morreu-lhe também o marido e a sua casa foi destruída, perdendo-se uma parte significativa da sua obra.

Como artista teve êxito em vida, não só no seu país, e viu o seu talento reconhecido pelos pares, mas foi injustiçada pelos governantes. O kaiser Willelm II não permitiu que lhe fosse atribuída uma medalha pela obra apresentada numa exposição, por ser mulher; Hitler afastou-a das escolas de artes em que ensinou, por divulgar os horrores da guerra e as situações de sofrimento que dela advêm.

Kathe Kollwitz trabalhou em séries em torno da revolta, da guerra e da morte, delas não se destacando obras particulares, mas grupos de obras, em função das composições e da expressividade que apresentam.

Nenhum dos seus desenhos, gravuras ou esculturas nos deixam indiferentes, já que a sua arte é um grito permanente. Mas na sua obra gráfica, quase sempre a preto e branco e apesar dos temas abordados, surge uma estética onde não deixa de estar presente uma certa poesia, embora com sabor a elegia.   

Os sobreviventes é uma das muitas obras onde a proteção oferecida pela maternidade conforta as crianças do medo e da tristeza. Os rostos são os de quem também passa fome, as vendas nos olhos parecem aludir aos gases químicos, usados nas guerras, que provocavam cegueira.

A mulher tem traços fisionómicos da artista. É ela no papel de protetora das crianças, a dar-se aos outros e a sofrer pelos outros. E é ela também uma sobrevivente.

 

António GalrinhoArtista plástico

 

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