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A carroça de feno
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A carroça de feno

março 2024

John Constable foi um pintor romântico inglês que se especializou em paisagens campestres, onde frequentemente as árvores marcam uma forte presença. Os seus quadros não são meros registos melancólicos da vida rural, mas espaços amplos e profundos, que cativam pelos contrastes cromáticos e pelos efeitos de luz-sombra.

Nessas paisagens é comum haver animais a pastar e pessoas em atividades rurais. As casas marcam sempre uma presença discreta. O céu surge pleno de nuvens e a terra com pastagens ou campos cultivados, parcialmente alagados de água. Contudo, por norma, são as árvores os elementos que captam mais a atenção, pois são elas aquilo que o pintor mais quer destacar.

Conta-se que Constable chorava quando via uma árvore ser cortada e deitada abaixo. Ora, esse amor (pode-se assim dizer) é evidente nos quadros em que as árvores são colocadas em primeiro plano, enormes, embelezadas pelas marcas da sua própria velhice. Expressando sentimento, como atores principais numa representação teatral.

A carroça de feno é um dos seus quadros mais famosos e belos, talvez por nele se equilibrar a atividade humana com a natureza, a luz com a sombra, as cores frias com as quentes, o elemento líquido com o gasoso e com os sólidos. Mas também porque sob nuvens ameaçadoras e dentro de água tranquila se desloca uma carroça puxada por dois cavalos, conduzidos por dois homens, com um cão observando a cena da margem.

Aqui são esses elementos em primeiro plano aquilo que mais atrai o olhar, e não as árvores, como noutros quadros. Mas elas cá estão com uma forte presença, mesmo em segundo plano, formando uma cortina.

As nuvens refletem-se na água, que possui brilhos brancos, intensos, apesar de a luz do dia estar frouxa. Brilhos idênticos existem também, embora discretos, à volta do rodado das rodas, representando água a deslizar, num efeito de nora provocado pela sua deslocação.

Há uma certa teatralidade nesta paisagem, como em várias outras do pintor, já que os elementos surgem posicionados nas distâncias certas para que possam dialogar. Uns representando papéis principais, outros secundários, em complemento.

 

António GalrinhoArtista plástico

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