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Guia de Eventos de Setúbal

bastidores

Música sem parar

julho 2023

Quatro dezenas de pessoas dos 13 e os 76 anos, incluindo três gerações de duas famílias, ensaiam duas vezes por mês para manter viva a tradição. É o Rancho Folclórico de Praias do Sado

Sexta-feira, 21h30. A sede da coletividade acolhe mais um ensaio do Rancho Folclórico de Praias do Sado, para algumas horas de rodas e rodopios, sempre com a preocupação de que a ocupação do espaço, a posição dos braços e a sincronização sejam corretas, mas, principalmente, de que a música nunca pare.

A música parar é a mais grave falha técnica de um rancho folclórico. Quando o grupo para todo, tem de se pedir desculpa, por não estar bem ensaiado, como afirma Luís Miguel Guerreiro, diretor-técnico do rancho, ensaiador e bailador.

Por isso, um bailador experiente que cometa uma falha técnica sai discretamente da roda, para não comprometer todo o grupo. “Há muita preparação, mas há sempre falhas”, sublinha.

Luís Miguel Guerreiro, 51 anos, vai fazendo correções. Manda parar tudo por a bilha, instrumento usado no folclore, marcar um ritmo muito lento, ou corrige os pares que fogem para dentro e perdem a roda.

Como esta desgarrada entre velhos e novos é a música mais violenta, só alinharam três pares. Nenhum desistiu, mas nunca deixaram de olhar uns para os outros para evitar “malandrices”, como atalhar na entrada ou saída da roda.

O grupo ensaia duas vezes por mês, à sexta-feira, em sessões cuja duração depende da atuação para a qual se está a preparar, que pode ser num festival, num hotel ou na televisão.

Os trajes ficam reservados para as atuações, podendo o da noiva custar 600 euros. Pescador, varina rica, descarregador de peixe, salineiro, pastor, mulher da ostra, ceifeira e mondina são outras personagens importantes.

Fundado em 1968, o Rancho Folclórico de Praias do Sado é composto por cerca de 40 pessoas, entre os 13 e os 76 anos, possuindo oito pares e uma tocata com dois vocalistas, duas cantadeiras, três acordeonistas, uma braguesa e vários instrumentos tradicionais, como a bilha, as pinhas, os ferrinhos e o reco-reco.

No grupo há membros de três gerações de duas famílias. “Tratamo-nos como uma família”, refere o diretor-técnico, sublinhando que quem já não pode dançar vai para a tocata.

O rancho organiza o Festival Internacional de Folclore de Setúbal entre 12 e 16 de julho, com o apoio da Câmara Municipal e das juntas de freguesia, havendo a presença de grupos do México, Argentina e Espanha.

Com o festival à porta, o ensaio prolonga-se noite dentro, com a preparação de modas da região do Sado resultantes de uma recolha etnográfica realizada relativamente ao período de 1905 e 1960.

Preservar música, danças e trajes tradicionais é um objetivo também perseguido pela atividade de escola de folclore, na qual os novatos aprendem as quatro técnicas principais – valsear, escovinhar, rodar e trautear.

“O objetivo é a gente não esquecer os nossos antepassados e manter as nossas raízes culturais. Não deixem acabar as nossas raízes porque foi de lá que viemos todos”, afirma, notando que, por estar sujeito às regras da Federação do Folclore Português, o grupo tem de ser o mais genuíno possível.