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A saia de pavão
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A saia de pavão

março 2019

Aubrey Beardsley foi um ilustrador inglês do final do séc. XIX que, embora tenha morrido com apenas 25 anos, deixou uma obra notável. Esteticamente num campo oposto ao do grande mestre Gustave Doré, abriria portas à ilustração e publicidade modernas, através das suas imagens sintéticas, depuradas e com uma beleza inusitada.

Uma viagem que fez com vinte anos a Paris marcaria as suas opções estéticas, sobretudo pelo fascínio que os cartazes de Toulouse-Lautrec e as estampas japonesas, muito divulgadas na altura, exerceram sobre ele.

A sua obra desenrola-se apenas ao longo de seis anos. Contudo, foi um período de tal modo produtivo, em quantidade, qualidade e originalidade, que ganhou um lugar de destaque na História da Arte, como um dos principais representantes da Arte Nova.

Das suas delicadas e surpreendentes ilustrações a preto e branco emana uma forte sensação de harmonia. Nelas não há cor, nem a profundidade é preocupação, mas também não se sente a sua falta.

Beardsley fez ilustrações para cerca de uma dezena de livros, mas também para poemas soltos e contos. Entre elas têm um destaque especial as dez que fez para a primeira edição inglesa de Salomé, tragédia de Oscar Wilde. Aquela que aqui se apresenta, A saia de pavão, é uma das suas mais célebres criações.

Nela, Salomé está com um longo vestido que termina numa enorme pena de pavão, em cujo fundo negro se abrem algumas linhas, assim como uma imensidão de curvas brancas, como que estreitas luas de diferentes tamanhos, criando um agradável emaranhado de rasgos de luz. Também na sua cabeça está uma coroa de penas e por trás um pequeno pavão, numa silhueta habilmente estilizada. Na outra figura alternam linhas e manchas no vestido e no cabelo.

No conjunto, nesta e na generalidade das ilustrações de Beardsley, ressalta uma harmonia entre branco e preto, entre linha e mancha. A sua capacidade de simplificação e depuração das formas é notável, assim como a de colocar emoções nos rostos das figuras. Esses aspetos, a que se soma a sinuosidade e a delicadeza das linhas, convergem para a evidente impressão de sensualidade geral que emana de muitas das suas obras.

 

 

António GalrinhoArtista plástico