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A parábola dos cegos
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A parábola dos cegos

setembro 2025

Este quadro representa seis cegos seguindo uns atrás dos outros, ligados por cajados que seguram ou pela mão que se apoia no ombro daquele que segue à sua frente. Mais concretamente, representa o momento em que se dá a queda dos primeiros dois homens, depreendendo-se que a seguir cairão os restantes.

Nós, pessoas do tempo do cinema, deparamos aqui com uma composição algo cinematográfica, já que as figuras se sucedem num andar compassado, embora hesitante, inseridas numa faixa que vai da esquerda para a direita, numa diagonal descendente. Como que representando diferentes fases da deslocação de uma só pessoa.

Os quatro homens que estão de pé apresentam poses semelhantes. Aquilo que vestem pouco difere: todos envergam uma capa sobre a restante roupa e todos usam chapéu, sendo que um o leva na mão; quase todos os chapéus são colocados sobre uma touca; calçam sapatos dum material macio e bem adaptado ao formato do pé, talvez para que sintam bem o chão que pisam.

Parece estar frio, mas não há neve nos campos nem nos montes, nem gelo no ribeiro para onde caem os dois primeiros. O ambiente é de meados do outono, já que algumas árvores estão sem folhas e as outras têm-nas descoradas. A luz é difusa, própria dum dia com o céu tapado por nuvens brancas.

São visíveis alguns objetos pessoais presos à cintura, como bolsas, uma taça, uma faca de lâmina curta ou um funil. O da frente, já caído, leva consigo uma viola da gamba, ou um instrumento semelhante; o penúltimo tem um colar com um crucifixo; o de trás transporta um volumoso saco a tiracolo, tapado pela capa.

Pintado por Pieter Brueghel, o Velho, este quadro intitula-se A parábola dos cegos, mas também é conhecido por Cegos guiados por cegos. A presença da igreja, ao fundo e de costas voltadas para a cena, talvez sirva para informar que nem a fé salva aqueles que são assim guiados. Para tornar as expressões mais dramáticas e sofríveis, alguns dos homens não têm olhos, mas covas fundas no sítio onde já os tiveram.

Trata-se, pois, dum quadro muito rico em significados e simbolismos, e algo enigmático. Pintado há quatro séculos e meio, a sua mensagem continua atual.

António GalrinhoArtista plástico

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