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O mar de gelo
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O mar de gelo

janeiro 2025

Na obra de Caspar David Friedrich, pintor romântico alemão da primeira metade do séc. XIX, são comuns as paisagens onde a força da natureza surge dominadora, com figuras humanas frágeis e contemplativas, introspetivas ou mesmo amedrontadas.

Elementos frequentes nos seus quadros são: árvores de grande porte (parte das vezes caídas ou mortas), penhascos, rochedos, picos montanhosos, vales profundos, atmosferas húmidas ou nubladas, paisagens de montanha ou de mar a perder de vista, neve, gelo, edifícios abandonados ou em ruínas e embarcações. Outro elemento que carateriza a sua pintura é a presença de figuras humanas numa escala reduzida, sozinhas ou em pequenos grupos, quase sempre de costas para o observador.

Em relação a outras obras suas, o quadro O mar de gelo apresenta-se algo minimalista de elementos, sem figuras humanas, numa paisagem inóspita que revela a força violenta e impiedosa da natureza. Dum mar gelado emergem gigantescas placas de gelo, com alguma neve, sob uma atmosfera de luz nórdica, aparentando também ela estar solidificada pelo frio.

O amontoado de placas de gelo do primeiro plano ocupa cerca de três quartos da área do quadro. A sua presença é poderosa e assustadora, e mais ainda se torna quando deparamos com parte duma embarcação, no lado direito, como que triturada pela compressão das placas. Dela vê-se a popa quebrada, o mastro principal e parte duma vela. Ao centro e à esquerda parece que estão pedaços doutros mastros, mas uma visão atenta permite concluir que são troncos de árvores, já que deles irradiam pequenos ramos quebrados.

Trata-se duma imagem fantasiada, uma vez que num mar gelado não se formam placas de gelo de tais dimensões, nem elas quebram como aqui se mostra. De qualquer modo, esses aspetos enfatizam a força dos elementos da natureza, capazes de destruir a vida que nela se gera e de reduzir a humanidade à insignificância.

No fundo, este quadro retrata a transitoriedade da vida. As extremidades pontiagudas de várias placas de gelo apontam para o céu, de onde emana alguma luz, certamente num apelo à esperança e ao divino, quando nada mais resta.

António GalrinhoArtista plástico

 

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