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A nona onda
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A nona onda

janeiro 2024

Ivan Aivazovsky foi um pintor romântico do séc. XIX, nascido na Crimeia. Grande parte da sua imensa obra consiste em paisagens marítimas, de entre elas sobressaindo as que representam tempestades e forte ondulação, por norma acentuando e fantasiando as forças da natureza.

As suas paisagens, de beleza estonteante, surpreendem pelo colorido e pela luz, pela capacidade de registo e pela criatividade. Uma técnica irrepreensível de pintura conduz-nos a uma espécie de hiper-realismo fantástico. Mas este pintor apanha a fotografia nos seus primórdios, quando esta ainda era incapaz de registar o colorido e as condições meteorológicas que ele cria ou reproduz.

Em contexto de tempestade, os fenómenos atmosféricos e marítimos estão em permanente mudança: o vento, o crispar duma onda, o escorrer da espuma, a formação de gotículas quase ao jeito de vapor, a luz que atravessa as nuvens, a chuva e a água, etc. Reter esses fenómenos visual e mentalmente, para depois os registar em pintura, parece ter estado apenas ao alcance dum pintor. Este!

A nona onda é um quadro soberbo, muitas vezes apontado como o melhor quadro de Aivazovsky. Na realidade, trata-se de um entre centenas de outros quadros seus soberbos. A quantidade de quadros deste calibre que ele produziu é chocante, naquilo que esta palavra tem de mais sublime, encantador e surpreendente.

Neste quadro estão seis náufragos em extrema dificuldade, sobre o que resta do mastro partido dum navio. Um deles, moribundo ou talvez já morto, apesar de socorrido por outro, está prestes a ser engolido pelo mar. Outro parece perder forças para suplicar por ajuda. Outros dois, com metade do corpo na água, parecem encontrar ânimo na mulher que agita um lenço vermelho.

A mulher é a figura que mais se eleva e que mais determinação mostra em lutar pela vida. Mas a quem acena ela, se nenhuma embarcação parece existir nesta tremenda tempestade? Parece ser ao sol, como símbolo de esperança e de força divina, mas não é. A mulher acena a um navio longínquo que tem o sol por trás. Custa ver as velas da embarcação, mas ela lá está, num contraluz alaranjado e quase transparente.

 

António GalrinhoArtista plástico

 

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