Ivan Aivazovsky foi um pintor romântico do séc. XIX, nascido na Crimeia. Grande parte da sua imensa obra consiste em paisagens marítimas, de entre elas sobressaindo as que representam tempestades e forte ondulação, por norma acentuando e fantasiando as forças da natureza.
As suas paisagens, de beleza estonteante, surpreendem pelo colorido e pela luz, pela capacidade de registo e pela criatividade. Uma técnica irrepreensível de pintura conduz-nos a uma espécie de hiper-realismo fantástico. Mas este pintor apanha a fotografia nos seus primórdios, quando esta ainda era incapaz de registar o colorido e as condições meteorológicas que ele cria ou reproduz.
Em contexto de tempestade, os fenómenos atmosféricos e marítimos estão em permanente mudança: o vento, o crispar duma onda, o escorrer da espuma, a formação de gotículas quase ao jeito de vapor, a luz que atravessa as nuvens, a chuva e a água, etc. Reter esses fenómenos visual e mentalmente, para depois os registar em pintura, parece ter estado apenas ao alcance dum pintor. Este!
A nona onda é um quadro soberbo, muitas vezes apontado como o melhor quadro de Aivazovsky. Na realidade, trata-se de um entre centenas de outros quadros seus soberbos. A quantidade de quadros deste calibre que ele produziu é chocante, naquilo que esta palavra tem de mais sublime, encantador e surpreendente.
Neste quadro estão seis náufragos em extrema dificuldade, sobre o que resta do mastro partido dum navio. Um deles, moribundo ou talvez já morto, apesar de socorrido por outro, está prestes a ser engolido pelo mar. Outro parece perder forças para suplicar por ajuda. Outros dois, com metade do corpo na água, parecem encontrar ânimo na mulher que agita um lenço vermelho.
A mulher é a figura que mais se eleva e que mais determinação mostra em lutar pela vida. Mas a quem acena ela, se nenhuma embarcação parece existir nesta tremenda tempestade? Parece ser ao sol, como símbolo de esperança e de força divina, mas não é. A mulher acena a um navio longínquo que tem o sol por trás. Custa ver as velas da embarcação, mas ela lá está, num contraluz alaranjado e quase transparente.
António GalrinhoArtista plástico