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O arco em concha
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O arco em concha

novembro 2020

Giovanni Battista Piranesi foi um arquiteto, arqueólogo e gravurista italiano do séc. XVIII. Realizou cerca de duas mil gravuras, surpreendentes de beleza, realismo e expressividade. Rigor de desenho, precisão dos efeitos da luz, contraste preto-branco e notáveis perspetivas são as caraterísticas que de imediato sobressaem.

O seu tema de eleição é a arquitetura romana, frequentemente em ruínas e parte das vezes com os edifícios (ou o que resta deles) sendo devorados pela natureza. Estas caraterísticas fazem de Piranesi um pioneiro do Neoclassicismo e um precursor do Romantismo. Mas registou também notáveis vistas da Roma renascentista e barroca, assim como interiores de edifícios.

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Nas suas gravuras, o espetador sente-se como que integrado fisicamente no local. Mas também se sente pequeno, como os restantes humanos que o habitam, e como que oprimido pelo peso dos espaços, dos edifícios, da história e do elemento mais poderoso e devastador de todos: o tempo.

A série dedicada às prisões é composta por 16 invenções (como o autor lhes chama) de espaços interiores repletos de escadarias, estruturas e estranhos mecanismos. Com a criatividade e a fantasia que põe nesses trabalhos, Piranesi vai ainda mais longe na sua capacidade de surpreender e de pasmar.

Essas prisões são edifícios agigantados, assombrados e opressivos. São espaços complexos, com elementos arquitetónicos e estruturas que se sobrepõem e cruzam quase ao ponto de criarem ilusões de ótica. O arco em concha tem esses condimentos mas apresenta um espaço particularmente arrumado, ou seja, de mais fácil leitura.

O arco que dá título à gravura é o que se abre largo em baixo, coroado por duas guaritas cilíndricas e rematado lateralmente por gigantescos paralelepípedos de pedra, que aparentam ser perigosas escadas, difíceis de transpor.

Do edifício há outros grandes arcos, que se sucedem e sobrepõem com diferentes dimensões, tipologias e orientações espaciais. Vislumbram-se coberturas, algumas delas abobadadas, há balcões e complexas escadarias, estruturas em madeira e grossas cordas com roldanas. Nem tudo tem lógica, nem precisa, já que se trata de invenções.

 

António Galrinho

Artista plástico