É frequente os quadros não serem intitulados pelos seus autores ou adquirirem nomes em função de acontecimentos fortuitos, assim como serem-lhes atribuídos mais do que um nome. Este, conhecido por A grande banhista, provavelmente não pelo seu tamanho (a tela não chega a ter 1.50m de altura) mas por o corpo da mulher ocupar uma área significativa do quadro, já se chamou Mulher sentada e é também designado por A banhista de Valpinçon, por alusão a um antigo proprietário da obra.
Neste caso, a ausência dum título mais concreto talvez se deva também à necessidade de preservar a identidade da modelo que, certamente também por isso, se apresenta de costas e com o rosto vagamente atingível.
Auguste Ingres pintou este quadro quando tinha 28 anos e se encontrava em Roma, pelo que a modelo pode ter sido alguém que não quis ser reconhecida, ou que o próprio pintor terá preferido não revelar.
São poucos os elementos que o quadro contém: ao fundo estende-se uma cortina que se confunde com uma parede; à esquerda, outra cortina está chegada para o lado, quase tapando uma coluna; o chão está coberto por placas de mármore, e há nele um espaço rebaixado com água e uma pequena fonte, quase impercetíveis; à direita, na metade inferior, está uma cama coberta por lençóis, e com almofadas; sentada na cama está a banhista, com uma toalha no cabelo e outra enrolada a um braço, caindo até aos seus pés, junto dos quais está um sapato. Ressaltam à vista os contrastes de cores, de luz e de texturas. Os tons verdes, cinzentos e brancos transmitem frescura. Assim, a pele clara e lisa da mulher parece mais quente, como que guardando ainda o calor do banho, que perpassa para o observador através dos tons rosados da sua pele.
Os breves apontamentos a vermelho, na toalha do cabelo, no sapato e no rebordo da cortina, acrescentam mais algum calor à imagem.
Ingres tinha um notável domínio do desenho e uma tremenda capacidade de registar texturas, gradações de cor e nuances de luz. Usando essas habilidades, elabora aqui uma composição simples mas verdadeiramente notável, num ambiente sereno e intimista, pejado de sensualidade.
António GalrinhoArtista plástico