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Guia de Eventos de Setúbal

cidade

Camarata de amparo

maio 2019

Casa para mais de trezentos rapazes, o Orfanato Municipal de Setúbal abriu portas há precisamente cem anos. Os rapazolas que lá viviam aprenderam, desde cedo, a ser adultos e agora envelhecem juntos

 

“Orfanato é a minha casa, as portas são as defesas, as janelas uma nesga de liberdade. Os meus pais são os homens e as mulheres da minha terra. Os meus irmãos são os que vivem comigo no orfanato e dormem na minha camarata. O meu país é o orfanato. A minha família são todos os setubalenses.”

O texto escrito pelos antigos alunos do Orfanato Municipal Sidónio Pais, transformado desde 1975 em centro-museu, espelha a realidade de como era a vida.

Até 1984, o aborto em Portugal era completamente proibido e os métodos contracetivos eram ilegais. Estima-se que dezenas de mulheres tenham morrido na tentativa de fazer abortos ilegais. E, dos milhares de crianças setubalenses órfãs de pai e mãe, muitas acabaram no Orfanato Municipal, masculino, onde usualmente permaneciam até atingir a maioridade e aprender o ofício de carpinteiro, encadernador, tipógrafo ou sapateiro.

Educação física e instrução moral, intelectual e profissional. Estas eram as principais valências do orfanato, que abriu portas, com lotação para setenta crianças e adolescentes, há exatamente cem anos, a 18 de maio de 1919, ano da pneumónica ou gripe espanhola, que vitimou mais de 60 mil portugueses.

Cinco gerações de rapazes foram ali criadas até à extinção do orfanato, nos anos 60, que funcionou em todo o edifício ocupado pela Casa da Baía, o mesmo local que, até 1834, serviu de residência para religiosas.

As carteiras da instrução primária, os livros de estudo, fotografias de alunos, diretores e professores, certidões de aproveitamento escolares, composições e ditados, tudo permanece ali no centro-museu, localizado no número 11 da Rua João Soveral.

António dos Santos, um dos antigos alunos da instituição, quando entrou pela primeira vez no orfanato, deparou-se com meninos descalços, com calções e camisas sujas e cabelo rapado, chorou e tentou fugir. Agora, ele e outros tantos reúnem-se pelo menos duas vezes por mês no Centro de Convívio dos Ex-Alunos, e envelhecem juntos.