Pedro Marques atirou-se para o mundo do trabalho tão novo que o pai teve de assinar uma autorização para que saísse de Setúbal, rumo às Caldas da Rainha, onde o esperava o início de uma carreira profissional ligada ao mundo da soldadura.Aventurou-se, mais tarde, na área da robótica e em trabalhos temporários em plataformas de petróleo. Andou pelo mundo, sem nunca tirar as raízes de Setúbal e é à terra que o viu nascer que gosta sempre de voltar. “Costumo dizer que andei em formação. O caminho que percorri foi o gatilho para a paixão que desenvolvi pela escultura e o interesse que despertei pelo design.”Hoje, escultor de profissão, com peças criadas e expostas em Portugal, França e Suíça, o caminho de Pedro Marques pelo mundo das artes começou a ser trilhado há oito anos, quando a “Deusa do Vinho”, peça de ferro e metal com a sua assinatura, exposta na Bacalhoa, em Azeitão, foi motivo de reportagem televisiva.Desde então, conta que fez o percurso ao contrário do habitual para um artista. “Cheguei às galerias, às feiras e às exposições como visitante. Entreguei cartões meus e cheguei a vê-los imediatamente colocados no lixo.” Revê-se em Salvador Dali, mas admite que há obras do pintor espanhol das quais não gosta. E acha que o modernista português Amadeo Souza-Cardoso nasceu na época errada. É à terra e ao mar que vai buscar a inspiração.Trabalha com ferro, pedra, cerâmica e vidro, em criações que, segundo ele, “contam histórias, interesses e gostos”.Através da criatividade e do reaproveitamento de materiais, cria “metamorfoses harmoniosas”. A mão de obra, essa, “está à mão de semear” em sucateiras que visita pelos caminhos que percorre, dentro e fora do país. “Na arte, o interessante é subjetivo. Adoro tudo o que é tradicional, mas realizo peças grandes e leves. Sou autodidata, é tudo feito com as minhas mãozinhas.” Em 2017, quando lhe foi pedido que criasse uma garrafa de moscatel em ferro para expor numa feira agrícola no Poceirão, Palmela, estava longe de pensar que viria a ganhar um prémio de renome com esta obra. “Era uma espécie de maqueta. No ano seguinte, veio para a Feira de Sant’Iago, depois seguiu para Ponte de Lima, Azeitão e, quando dei conta, já estava exposta na Suíça.”Foi precisamente na Suíça, na 6.ª Exposição Bienal de Montreux, que decorreu entre agosto e novembro de 2019, que o artista venceu o Prémio do Público, através de uma votação realizada nas redes sociais, a concurso com 32 profissionais de vários países selecionados para expor as suas obras na mostra.“Não ganhei. Nós ganhamos! Dei o primeiro passo, realizar a peça, e o passo seguinte, levá-la à Suíça. Só ganhei pelas pessoas. É à comunidade emigrante e aos setubalenses agradeço.” A peça escultórica, em exposição junto do Lago Léman durante dois anos, tem 4,5 metros de altura e é representativa da região de Setúbal enquanto terra de vinhos.“Dali não sei para onde vai a garrafa. Se for necessário trazê-la de volta a casa, trago. Transportei-a de carro para lá, num reboque preparado para o efeito. Foi uma viagem de seis dias… e ainda vendi outra peça no caminho.”Nomeado embaixador de Setúbal pela Câmara Municipal, em 2019, Pedro Marques, defensor de que a arte deve estar acessível a toda a população, projeta para o futuro uma exposição de peças da sua autoria na cidade. “A minha carreira vai estar em construção até ao dia em que eu morrer, por isso quero alargar o público alvo das minhas obras. Só assim posso dar a conhecer o meu trabalho.”