Conceição é voluntária há nove anos no Centro de Cidadania Ativa. Assunção, há sete. Mampuya dá aulas de francês todas as sextas-feiras. Bebiana participa nas de informática e inglês. Este é um lugar de todos e para todos
A audição de Bebiana Fernandes, 80 anos, já se baralha, mas nada a impede de aprender.
Todas as terças e sextas-feiras vai ao Centro de Cidadania Ativa para frequentar as oficinas de descomplicação da informática e de iniciação ao inglês. “Já sei enviar mensagens por e-mail”, conta, satisfeita, a moçambicana, a viver em Setúbal há largos anos.
A 17 de janeiro de 2007, nascia o Centro de Cidadania Ativa, um projeto financiado pelo Fundo Social Europeu e enquadrado na iniciativa comunitária EQUAL.
Instalado no número 140 da Rua João Eloy do Amaral, no Troino, o resulta de uma parceria entre as autarquias de Setúbal e Palmela, o Instituto das Comunidades Educativas, o Instituto de Solidariedade Social e a Cooperativa SEIES e dá vida a vozes de todas as gerações. Até à de Bebiana.
As portas são meramente físicas, explica Isabel Rebelo, sócia-fundadora da SEIES. “Este espaço é aberto e tem terreno fértil. Todas as iniciativas podem ganhar corpo e todos têm oportunidade de concretizar ideias e vontades.”Com agenda concorrida, Lucília Ferro dos Santos, psicóloga, a assumir, atualmente, funções de coordenação do centro, recebe pessoas que precisam de ajuda e encaminha-as para um recomeço.“Fazemos o acompanhamento personalizado de pessoas em situações difíceis. Na procura de emprego, através do Gabinete de Inserção Profissional. No apoio, acolhimento e integração de imigrantes e refugiados, através da obtenção de documentação, sempre em articulação com as entidades parceiras”, enumera.Mas há quem venha pura e simplesmente para ler livros e jornais, utilizar o computador, fazer um telefonema ou desenrascar-se na utilização da plataforma da Segurança Social e do Portal das Finanças.O Centro de Cidadania Ativa funciona como um polo de dinamização da inovação, desenvolvendo progressivamente um trabalho em rede com associações dos concelhos de Setúbal e Palmela e em torno de projetos de intervenção, animação e interação com a comunidade.São três horas da tarde quando começa a atividade de Conceição Russo e Maria Assunção Anândio no Centro de Cidadania Ativa. É a primeira vez que as duas voluntárias de 65 anos fazem azevias de grão. Por isso, Dina, administrativa, cozinheira e mulher de sete ofícios, guia-as atentamente por cada passo da receita dos doces que São e Maria deverão deixar preparados para um lanche na tarde seguinte, em que cada participante do centro pode levar algo para partilhar com todos. De doces a declamação de poemas.A esta hora, a cozinha transforma-se em ponto de encontro e quem chega pode juntar-se ao grupo que por aqui convive, entre conversas alegres, boas energias, rolos de massa, aventais, cheiros doces e muita farinha.Das quatro mulheres reunidas nesta tarde, duas são funcionárias do centro. Conceição e Maria são voluntárias, integram o grupo Mãos à Obra, de atividades decorativas e de apoio logístico a eventos do centro e da SEIES e assumem-se como pau para toda a colher. “Tudo o que precisam, nós estamos cá.”Oito dezenas de voluntários mantêm vivo o Centro de Cidadania Ativa. Todas as semanas, vão-se cruzando em encontros e oficinas de aprendizagem, percebendo pontos em comum, trocando saberes e criando amizades para a vida. Como a de São e Maria.