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A montanha de Santa Vitória
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A montanha de Santa Vitória

janeiro 2019

Os pintores impressionistas foram decisivos no virar de uma importante página na História da Pintura. Contudo, dos pós-impressionistas se pode dizer que deram início a um capítulo que abriu várias portas à pintura do séc. XX. Se os impressionistas por vezes se confundem, curiosamente, cada um dos pós-impressionistas criou uma estética peculiar, fruto do traçar de caminhos próprios.

O percurso de Paul Cézanne gira, sobretudo e de forma quase obsessiva, em torno da composição, da profundidade, da aplicação da cor e da simplificação da forma. Não só as suas obras, mas também os seus escritos, deram importantes contributos para o aparecimento do Cubismo; assim como, se bem vistas coisas, do Abstracionismo.

Depois de ter sido um frequentador assíduo do Museu do Louvre, onde ia apreciar obras e aprender com grandes mestres do passado, que admirava, abandonou Paris e a sua efervescência artística. Decidiu ir para Aix-en-Provence, sua terra natal, a poucos quilómetros do Mediterrâneo. Rodeado por uma luz mais intensa, observou os seus efeitos na atmosfera, no espaço, nas formas e nas cores. Assim, fez da paisagem um importante tema da sua pintura.

A montanha de Santa Vitória foi o seu alvo preferencial, tendo feito, ao longo de duas décadas, cerca de oitenta quadros sobre esse motivo. Neles, a montanha rochosa, rodeada por colinas e planícies verdejantes, surge em variadíssimas abordagens: com diferentes distâncias e enquadramentos, com árvores por perto, com casario espalhado pelos campos, por vezes com a presença de caminhos, outras vezes de uma ponte.

Longe de fazer meros registos diferentes do mesmo motivo, Cézanne trabalha efeitos de profundidade e harmonias cromáticas nos quadros. As formas das rochas, das casas ou das árvores são por vezes de tal modo simplificadas que deixam de ser formas, transformando-se em pinceladas.

Curioso é o facto de vários dos quadros não terem sido feitos através de observação direta, mas a partir de outros, e alguns, até, de memória. No fundo, mais do que procurar o registo visual do motivo, o pintor estava em busca da poesia nele contida.

 

António GalrinhoArtista plástico