A memória das antigas quintas de Setúbal é recuperada no futuro Parque Urbano da Várzea. O novo espaço verde e de lazer tem, igualmente, uma função primordial na prevenção de cheias na cidade
A Várzea é o legado de uma cidade que em tempos prosperou em torno da famosa laranja de Setúbal.
Atravessada pela ribeira do Livramento e pelo aqueduto mandado construir por D. João II, em 1487, com águas que provinham de Palmela, a Várzea tem solos férteis e águas subterrâneas que criaram condições únicas para a exploração agrícola naquela zona do concelho ao longo dos tempos.
Apesar de se encontrarem muito degradados, é possível identificar vestígios de três das doze quintas que ali existiram, concretamente das quintas do Paraíso, da Azeda e de Próstes, que, devido ao seu elevado valor cultural e patrimonial, vão ser integrados no futuro Parque Urbano da Várzea, projeto liderado pela Câmara Municipal.
Da Quinta do Paraíso são visíveis ruínas de uma moradia e de um tanque, e da Quinta da Azeda restam dois dos elementos mais icónicos da Várzea, o mirante, uma das mais antigas obras portuguesas realizadas em betão armado, e uma antiga moradia de finais do século XIX. Já da Quinta de Próstes permanece o maior e mais completo sistema de distribuição de águas da Várzea, com um poço principal, um aqueduto e um tanque de rega.
A reabilitação destes elementos no projeto do Parque Urbano da Várzea, investimento municipal da ordem dos 4,5 milhões de euros, que aguarda financiamento comunitário, mantém viva a memória das célebres quintas de laranjas.
Numa área de 19 hectares, naquele que é considerado “O Coração de Setúbal”, haverá um lago artificial, uma quinta pedagógica, campos desportivos e de aventura, parques infantis, miradouros, quiosques, jardins e áreas de recreio.
Além de espaço verde e de lazer, o Parque Urbano da Várzea cumpre uma função essencial na prevenção de cheias na cidade, com intervenções hidráulicas, em curso, que incluem ações de alteração topográfica para descida das cotas de terreno e a criação de uma bacia de retenção pluvial, para mais capacidade de armazenamento de água.