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Guia de Eventos de Setúbal

Valentim de Barros
compasso

Valentim de Barros

novembro 2023

Valentim de Barros nasceu a 11 de novembro de 1916, em Lisboa, filho de Ana da Encarnação e de Joaquim José de Barros, respeitado professor-assistente de biologia na Faculdade de Ciências.

Cedo demonstra talento para as artes, dedicando-se à pintura e à dança.

Aos 16 anos, torna-se aluno de Ruth Aswin, professora alemã de dança clássica, radicada em Portugal. As aulas decorrem no Teatro Nacional D. Maria II, mas a família do jovem não está ao corrente.

Com 20 anos sai de Portugal para perseguir o seu sonho de ser bailarino profissional.

Rumou para Espanha, dançando em Madrid e Barcelona, até que surge a guerra civil espanhola. Daí terá ido para Berlim e depois para Estugarda, onde integrou o corpo de baile do Teatro de Ópera. Viveu a ascensão nazi na Alemanha, dançou para Adolf Hitler, conheceu Marlene Dietricht, sendo expulso antes da eclosão da II Guerra Mundial, em 1939.

É preciso ter sorte, quando se nasce muito “à frente” do seu tempo.

No seu regresso a Portugal, foi perseguido pela polícia política do Estado Novo e foi internado no Hospital Miguel Bombarda, em 1939. “Modos afeminados, melífluos, dengosos, denunciantes da sua inversão sexual. Perfeitamente calmo, humor natural. Respostas adaptadas, longas, circunstanciadas, voz afeminada”. “Toda a sua atividade está dirigida no sentido sexual”, anotou o médico do hospital, num exame posterior, para quem a intensa vida sexual de Valentim seria patológica.

Posteriormente, alternaria entre períodos de internamento e aqueles em que procurava ter uma vida normal, prosseguindo com a sua carreira de bailarino.

Por vestir-se de mulher e causar “distúrbios”, foi submetido a uma lobotomia e passado um ano, em 1949, foi internado definitivamente.

Esteve internado cerca de 40 anos. Passou a ter alguma liberdade de movimentos em 1974, recebendo visitas da irmã.

Faleceu em 1986.

Citando Inês Marto: “Valentim de Barros é aquele que dançou na cara do preconceito. Que, acima de todas as opressões, continuou a dizer que voltaria ao palco, que voltaria à vida. Aquele que, contra tudo, fez restar sonhos, habitou-se deles, e não deixou de se chamar Bailarino.”

 

Sónia Ribeiro

Bailarina, Coreógrafa e Professora de Dança